Agência de Energia do Cávado
A energia constitui um factor de produção primordial e de consumo permanente, com reflexo determinante no plano social, económico e ambiental.
Todas as actividades humanas dependem da sua disponibilidade oportuna e suficiente.
A questão maior que se coloca ao desenvolvimento do nosso país é a sua acentuada dependência energética, que significa uma preocupante fragilidade em termos de:
1º - segurança do abastecimento;
2º - impacto sobre a balança de transacções correntes;
3º - impactos do seu custo como factor de produção na economia e no funcionamento da sociedade.
Mais alarmante e grave é esta dependência estar centrada no petróleo, cujo os derivados representas 60% do consumo de energia em Portugal.
O país deve aproveitar os recursos energéticos endógenos de energias renováveis (hídrica, solar, biomassa, eólica, ect..) que possuem potencial de produção centralizada de grande escala, e potencial de produção descentralizada de pequena escala, para muitos pequenos consumidores potencialmente autónomos.
Devemos dominar as tecnologias para a sua valorização, e optimizar os diversos tipos de consumo, com vista a uma redução significativa da nossa dependência nacional nesta área estratégica, contribuindo para o desenvolvimento do país.
Se os recursos são escassos, devemos optimizar a sua utilização.
Para além do consumo de outras energias, é fundamental a orientação no sentido da poupança e eficiência de utilização.
Nos transportes, há que inverter a utilização excessiva do transporte individual rodoviário, face ao transporte colectivos, e há que privilegiar o transporte ferroviário quer para passageiros, quer para mercadorias, visando uma elevada eficiência energética e menor dependência dos combustíveis fosseis, isto, a par das exigências de ordenamento urbanístico e territorial que se colocam.
E aqui, o concelho de Barcelos pode dar o seu contributo com a criação dos transportes rodoviários colectivos municipais e com a exigência da classificação da linha ferroviária em Barcelos como zona suburbana.
Nos edifícios, incluindo o habitacional, o comércio e os serviços, existe ampla margem para redução dos consumos de energia associados ao conforto térmico, à iluminação e outras funcionalidades, visando a adopção generalizada de conceitos e técnicas com vista a edifícios energeticamente autónomos.
Na indústria, a análise energética e a integração de processos, a cogeração e a trigeração entre outras soluções técnicas, oferecem oportunidades de eficiência energética e redução de consumos.
Todas estas transformações nos vários sectores de utilização final de energia, dependem necessariamente da alteração da política energética.
A constituição da Agência de Energia do Cávado poderá ser um contributo que os municípios constituintes dão para a modificação das práticas de utilização de energia.
Porém, ignorar que os graves problemas energéticos em Portugal e no mundo, que tem despoletado crises económicas, financeiras, ambientais e guerras estão intimamente ligados ao modo de produção predatório capitalista e à subalternização do poder político aos interesses das grandes multinacionais energéticas é ignorar o cerne da questão. E tudo que se fizer que não seja romper este laço são meras operações de cosmética.
Barcelos, 30 de Dezembro de 2009.